8 de ago. de 2011

Quem sabe?

A moça do arame
equilibrando a sombrinha
era de uma beleza instantânea e fulgurante!
A moça do arame ia deslizando e despindo-se.
Lentamente.
Só para judiar.
E eu com os olhos cada vez mais arregalados
Até pareciam dois pires:
Meu tio dizia:
"Bobo! Não sabes que elas sempre trazem uma roupa de malha por baixo?"
(...)
Sim! Mas toda a deliciante angústia dos meus olhos virgens segredava-me sempre...
"Quem sabe?"
Eu tinha oito anos e sabia esperar.
Agora não sei esperar mais nada
Desta nem da outra vida.
No entanto,
o menino (que não sei como insiste em não morrer em mim)
Ainda e sempre,
apesar de tudo,
apesar de todas as desesperanças,
o menino, às vezes,
segreda-me baixinho
Titio, quem sabe?...
Ah, meu Deus, essas crianças!

(Mário Quintana)

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